Triunfo acima da tragédia

Jim Lovell relembra

O famoso astronauta reconta sobre a Apollo 13

 

Jim Lovell relembra a missão Apollo 13 com o editor sênior Rich Talcott. – Astronomy

 

Para um estadunidense padrão vivendo em 1970, o programa espacial tinha virado bastante monótono. Os anos anteriores tinham testemunhado o histórico primeiro pouso na Lua da Apollo 11 e a precisa alunissagem da Apollo 12 a uma curta distância da espaçonave não tripulada, Surveyor 3. Mas no começo de 1970, a corrida de sucessos da Nasa mudou muito a satisfação da nação por ela. Muitos ficaram se perguntando se os problemas da Terra não exigiam mais atenção do que explorar a Lua.

Foi nesse clima que a Apollo 13 decolou em 11 de abril para o terceiro pouso lunar. A missão foi a primeira a ser majoritariamente devotada a ciência, e mirava uma área perto da cratera Fra Mauro que cientistas achavam ter sido atingida por detritos do impacto que formou a Mare Imbrium.

Jim Lovell serviu como comandante da Apollo 13. Essa era a sua quarta viagem ao espaço. Ele estava anteriormente em equipe com Frank Borman na Gemini VII em novembro de 1965, quando eles conquistaram o primeiro encontro com outra espaçonave tripulada; esteve em equipe também com Buzz Aldrin na Gemini XII em novembro de 1966, a missão final daquele programa espacial; esteve em equipe também com Borman e Bill Anders na histórica missão da Apollo 8, em dezembro de 1968, que primeiro mandou astronautas para a Lua. Na Apollo 13 ingressou junto a uma dupla de calouros.

Comandante piloto do módulo, Jack Swigert e piloto do módulo lunar, Fred Haise. Swiger foi um substituto de última hora para Ken Mattingly, que tinha sido exposto a sarampo alemão uma semana antes do lançamento e era o único membro da equipe que não tinha imunidade a ele.

Os dois primeiros dias foram completamente de acordo com o planejado, pouco sabia a equipe a bordo. Nenhuma das três maiores redes de televisão dos EUA levaram no horário nobre a transmissão da equipe na tarde/noite de 13 de abril. Mas o mundo certamente notou quando, mais tarde naquela noite, um tanque de oxigênio do módulo colocou a missão (e a vida dos astronautas) em perigo. A angustiante jornada de retorno paralisou a nação e o mundo.

Recentemente, eu tive a honra de entrevistar o Capitão James Arthur Lovell Jr. sobre a Apollo 13 em uma biblioteca pública localizada na floresta do lago, em Ilinois. Como você deve imaginar, os eventos da missão se mantiveram gravados na memória mesmo depois de 50 anos.

Astronomy: Obrigada, capitão Lovell, por se juntar a nós hoje e relembrar sobre a Apollo 13, cujo quinquagésimo (50º) aniversário está se aproximando. Nós temos várias perguntas obre a missão e sobre a sua reação em relação a tudo que aconteceu durante a Apollo 13. Minha primeira pergunta é, a Apollo 13 seria o terceiro pouso na Lua. Poderia falar um pouco sobre os objetivos da sua missão e o que diferenciava ela da Apollo 11?

Lovell: Então, na verdade, essa era a primeira vez que iríamos com a finalidade de exploração e descoberta. As duas primeiras, Apollo 11 e Apollo 12, eram meramente maquinas para dizer “Ei, nós podemos fazer o trabalho. Aqui estamos”.

…. Porém, no tempo que a 13 veio, [NASA] não se preocupou muito com a transição e com os mecanismos para chegar na Lua. O que os cientistas estão procurando agora era a Lua em si. Nós estávamos indo para um lugar chamado Fra Mauro. Fra Mauro era para ser um lugar muito informativo com diferentes tipos de materiais do que a 11 e a 12 coletaram. Esse era todo o objetivo e isso era que nós tínhamos treinado. Infelizmente, nós não conseguimos.

Astronomy: Eu entendo que sua equipe estava originalmente destinada para voar na Apollo 14 e não na 13, porém a NASA rejeitou a recomendação de Deke Slayton (diretor da equipe de voo) para a equipe da Apollo 13, portanto isso o chocou. Eu estava pensando. Eu estava pensando, como você se sentiu em relação a isso na época e como você se sente agora sobre isso olhando para trás em retrospectiva?

Lovell: Então, é meio interessante. Depois da Apollo 8, … eu era o substituto para o Neil na Apollo 11. Depois eu fui designado para a Apollo 14, então nós começamos a treinar para isso, porém o gerente da NASA determinou que Al Shepard não tinha treinamento suficiente. Ele ficou de castigo por um tempo.

Até que um dia Deke veio e disse, “Olha, nós queremos te colocar na 13, ao invés da 14”. Eu achei que ficaria tudo bem. Quero dizer, nós iriamos chegar em seis dias ou um pouco mais cedo. Seria um voo mais cedo.

Eu fui para casa e contei para a minha esposa “Nós iremos na 13, não na 14” e ela falou, “13?”, eu falei “Então, vem depois do 12”. [risadas]. E então eles colocaram isso no filme [risadas].

Astronomy: Como você se sente em relação a isso, olhando para trás?

Lovell: Então, estando no governo da NASA, nós não acreditamos em mitos como o do número 13, porém nós tivemos – ao olhar para o voo e analisar a missão do seu começo ao fim, você perceberá que foi atormentado por maus presságios e má sorte desde o comecinho. Um por um, agora que eu olho para trás, eu posso ver as coisas que aconteceram que me avisaram, ei, algo vai acontecer aqui.

Astronomy: Você poderia mencionar algumas dessas coisas?

Lovell: Sim. Primeiro de tudo, nós estávamos colocando tudo em quites para checar as coisas. Durante o teste de demonstração da contagem regressiva que foi duas semanas antes do voo, nós tínhamos a espaçonave cheia de combustível e coisas dessa natureza. O teste foi completado – tudo funcionou bem para o lançamento do veículo.

Nós deixamos e a equipe terrestre foi para assegurar a espaçonave. Um dos trabalhos deles era remover o oxigênio líquido dos dois tanques que estavam na espaçonave. E o jeito que eles faziam, eles colocavam o oxigênio na forma gasosa, ou gás, na linha de preenchimento e forçavam ele para fora da linha de ventilação através de um sistema no próprio tanque; o encanamento permite que você faça isso.

Porém, anos antes do voo, esse tanque tinha sido derrubado na fábrica. Agora, eles testaram ele para tudo que tinha a ver com o suprimento de oxigênio para a espaçonave, mas eles falaram em olhar para o mecanismo e para a turbina que remove o oxigênio depois de um teste de rotina. Então, quando a equipe de voo depois do último teste apenas duas semanas antes, tentou remover o oxigênio não conseguiu.

Então eles olharam para os esquemas do tanque. Eles olharam e disseram, “Então, espere um segundo. Esse tanque tem um aquecedor nele. E nós deveríamos apenas aplicar a energia terrestre (ground power unit) porque nós temos energia terrestre na plataforma de lançamento” – uma energia terrestre de 65 volts, enquanto a espaçonave voava a uma energia de 28 volts.

Eles aplicaram a energia de 65 volts no sistema do tanque de oxigênio e como eles previram, funcionou. Eles ferveram o oxigênio fora do tanque e deixaram tudo quite, tudo pronto para ir. Entretanto, o que eles não sabiam, era que a medida que a temperatura chegasse perto de 80 graus, que é uma temperatura meio anormal para oxigênio líquido, o pequeno termostato iria abrir para desligar a energia e manter a temperatura baixa. Porém quando subiu, a voltagem mais alta soldou aqueles contatos desligados, e desde que ligou, não tínhamos mais segurança.

A medida que foi indo, a temperatura subiu para 300 ou 400 graus. A equipe terrestre nunca soube disso. O oxigênio foi todo removido. O tanque não explodiu, por algum motivo estranho. Mas, no dia anterior ao voo, eles colocaram o oxigênio liquido de volta nele, e a partir daí era apenas uma bomba esperando para explodir.

Porém, a anormalidade dessa coisa toda era, de volta a 1965 eu acho que era, o fabricante da espaçonave falou para o fabricante do tanque de oxigênio líquido mudar os freios do circuito ou do termostato para ser compatível de 28 volts para 65 volts. Eles não fizeram isso.

Nisso, o que fez as coisas piorarem foi que o fabricante não checou duas vezes sua instrução para fazer isso, e consequentemente, eles danificaram o tanque, e 200.000 milhas depois – em 13 de abril – o tanque explodiu.

Claro, outros presságios onde tínhamos expostos (na Alemanha) ao sarampo bem antes de decolar e Jack Swigert tinha substituído Ken Mattingly. Então essas eram as coisas que levaram a Apollo 13 ser fora do padrão.

Astronomy: Pois é, em retrospectiva, parece bem interessante. Na mesma linha de raciocínio, a decolagem da Apollo 13 começou maravilhosa, mas ai a máquina central da Saturn V, o segundo estágio, desligou a cerca de dois minutos antes. Vocês não tiveram preocupações naquele ponto, se vocês seriam capazes de alcançar a Lua?

Lovell: Sim, nós tivemos, de repente a máquina central desliga, eu acho que um minuto ou dois antes, e nós tínhamos aquela grande luz piscando para a gente e nós dissemos “Nossa, qual o problema?”

Então, acabou que no terceiro estágio nós tínhamos combustível suficiente para chegar na órbita da Terra e depois ir ao redor; e com combustível suficiente no terceiro estágio para nos dar a velocidade para ir para a Lua. Mas aí estava outro pequeno mau presságio.

A coisa engraçada é que em uma das Saturn V’s não tripuladas, – tinham duas Saturn V não tripuladas – a mesma coisa aconteceu e eles sentiram que tudo estava quite no momento do nosso lançamento. Claro que em 8, 10 e 11 tudo funcionava bem.

Astronomy: Você poderia descrever a sua reação quando você ouviu o alto “boom” que foi resultado do tanque de oxigênio explodindo?

Lovell: Então, primeiro de tudo, nós não sabíamos. Eu ouvi o alto “boom”. A coisa engraçada é que durante nossas fases de treinamento, enquanto nós estávamos na espaçonave, Fred Haise fazia coisa meio engraçadas. Ele dizia um “eu acho que foi uma válvula de oxigênio ou algo”, e fazia um “boom” também.

E eu achei de primeira que tinha sido o Fred. “Por que ele está fazendo isso novamente? ”, ai eu olhei para ele. Eu estava no comando do módulo. Eu olhei para ele e os olhos dele estavam abertos como pires. Eu podia ver. Ele disse, “não fui eu”. Depois, obviamente coisas começaram a acontecer.

Astronomy: Quando você viu a ventilação de gás pelo módulo de comando, quanto tempo levou para você perceber que era algo maior?

Os astronautas da Apollo 13 nunca chegariam em casa com segurança se não tivessem descoberto uma maneira de remover o dióxido de carbono do ar. Com a ajuda de engenheiros no solo, eles montaram um júri quadrado do módulo de comando para encaixar nos orifícios redondos do sistema ambiental do módulo lunar. – Astronomy

Lovell: Então, antes de eu ver aquilo, eu vi que nós tínhamos perdido duas ou três células de combustível. Eu sabia que aquela célula de combustível nos daria poder elétrico suficiente para nós darmos a volta na Lua e voltar para casa novamente. Porém quando eu olhei para o painel de instrumento e vi a quantidade de combustível nos manômetros das duas células de combustível no módulo de serviço, um estava em zero e a outra começou a descer lentamente, uma coisa que você nunca veria nos usos normais de oxigênio para voar até a Lua.

Aí eu fui para a janela lateral. Hoje eu não posso te dizer o porquê eu fui, mas eu olhei pela janela e vi escapando da traseira da espaçonave um tipo de flama ou uma coisa como uma calha, uma substancia gasosa, e rapidamente percebi qual o gás que eu tinha visto saindo, era oxigênio, e que eu tinha perdido… ambos tanques de oxigênio. Com isso, a explosão tinha rompido parte do segundo tanque também, que não tinha sido danificado pela equipe da fábrica quando eles bombearam ele.

Astronomy: Como você segurou sua compostura em um momento de crise tão extraordinário e sem precedente?

Lovell: Então, quando você está em uma situação como essa, eu poderia estar superlotado de energia por 10 minutos tentando descobrir o que ia fazer, e mesmo assim nada teria mudado. E lembre-se, a equipe costumava ser piloto de teste. Então eu estava acostumado a maquinas falhando de vez em quando em momentos de teste em aviões e coisas do tipo.

Então, eu finalmente decidi o que fazer. Rapidamente nós sabíamos que estávamos em um veículo que estava morrendo e que nós teríamos que ir para o módulo lunar, pois era a única coisa que ainda tinha tanques de oxigênio. Por causa da perda de poder elétrico, nós perdemos nosso motor do foguete no módulo de comando. Então ele estaria morto, que foi exatamente o que aconteceu.

Nós discutimos sobre. Finalmente, eu esqueci exatamente quando, nós conseguimos conversar com a equipe terrestre. A equipe terrestre primeiro pensou que tinha sido um problema de comunicação, que de alguma forma foi interrompido por ondas de rádio ou raios solares, ou algo dessa natureza, e dando todas essas falsas acusações através do console daqui de baixo. Mas nós sabíamos qual era a história certa desde o começo.

Depois, eles finalmente concordaram que aquele era o caso, vamos para o modulo lunar. A primeira coisa que fizemos foi bem, bem afortunado, nós pegamos os parâmetros de orientação do sistema de orientação e colocamos no modulo lunar. Então, o sistema de orientações no módulo de comando sabia a nossa atitude em respeito à esfera celeste. Portanto, nós conseguimos essa informação do sistema de orientação do módulo lunar – que estava desligado e nós tivemos que ligá-lo – e colocamos ele de volta. Desse modo, nós sabíamos no módulo lunar qual era a nossa atitude, assim, nós poderíamos usá-lo com o motor para manobrar em diferentes situações.

Astronomy: Nesse estágio, você estava preparado para realizar uma correção de meio curso para sair da trajetória de retorno livre, para um melhor caminho para pousar na Fra Mauro. Em quanto tempo o controle da missão levou para descobrir como fazer para vocês voltarem para aquela trajetória de retorno livre, e acelerar a espaçonave para chegar em casa mais cedo?

Lovell: Levou um tempo, porém essa foi a primeira coisa que eles pensaram. É meio interessante. Nós começamos em um curso de retorno livre para a Lua, que significa basicamente que se nosso motor no modulo de serviço desligar, nós estamos em uma rota que nos leva direto para a Lua e … com ajuda da gravidade da mesma, nós podemos contornar e voltar para o curso da Terra, em uma certa atitude que podemos entrar na atmosfera da Terra.

Mas aí depois de, não sei, umas 20 horas, que nós tinhamos partido da Terra para a Lua, e eles ligaram e disseram, “olha, nós averiguamos a situação. Quando vocês começarem a descer para o pouso na Era Mauro, nós percebemos que o Sol estará logo acima de vocês. Portanto, irá sumir tudo abaixo. Será como vocês pousarem em um pires de leite. Por isso, nós vamos tirar vocês do curso de retorno livre e colocar em uma rota que quando vocês contornarem a Lua e forem pousar, poderão ver as crateras, as sombras e coisas assim”. Portanto, foi tranquilo.

Depois, quando o acidente ocorreu, nós estávamos em uma posição que nós não tínhamos saído da rota ainda, nós teríamos contornado a Lua e retornado para a Terra, a gente teria desviado completamente da Terra e acabaríamos em uma longa órbita elíptica, voltando para onde a Lua estava, depois voltando para onde a Terra estava, depois voltando para onde a Lua estava. Eu não sei, eu diria por anos, talvez.

Astronomy: Isso é um pouco assustador. Uma consequência da trajetória de retorno livre, é que vocês quebraram o recorde de humanos mais rápidos da Terra. Vocês perceberam o feito no momento, ou vocês estavam muito preocupados com as tarefas em mão?

Lovell: Não, nós não percebemos. Porém, quando retornamos no apogeu, dessa vez não desaceleramos, obviamente. Nós deixamos o apogeu nos levar de volta. Eu olhei para atrás, para a Lua e pude ver que não é a mesma que eu vi na Apollo 8. É uma bem menor.

[Mas] Está tudo bem por mim, pois eu sabia que nós não iriamos desacelerar também. Então, eu tive velocidade para não sermos capturados pelo Lua, e assim conseguir voltar para casa.

Astronomy: Isso é bom. O modulo lunar obviamente nunca foi desenhado para operar como um bote salva vidas e usá-lo assim foi realmente sem precedentes. O quão difícil foi operá-lo e manobrá-lo, comandando os motores e usando para navegar de volta para casa?

Lovell: Bem, normalmente, um módulo lunar é como qualquer outro veículo.

Quero dizer, quando você faz as coisas, quando está nos controles, eles se comportam da maneira que foram projetados para se comportar e que você aprendeu. Mas quando a explosão ocorreu e tivemos que usar o módulo lunar, [ainda] precisávamos do módulo de comando e do seu escudo térmico para voltar à atmosfera.

[Foi isso] Que aconteceu quando tentei manobrar o veículo, antes de chegarmos à Lua, para voltar à trajetória de retorno livre [depois] que a equipe em solo nos deu intentos específicos para tal. [Quando] Comecei a manobrar de maneira normal – não funcionou.

O centro de gravidade, em vez de estar no centro do módulo lunar como deve ser, estava em algum lugar no campo esquerdo, se eu quisesse ir para a direita, ele iria se dirigir para qualquer outro lugar. Se eu quisesse ir para a esquerda, ele [iria para um outro lugar].

Então, eu literalmente tive que aprender [pela maneira que estava o módulo] como manobrar ou como colocar meu controlador para chegar à posição correta. Demorou um pouco para eu aprender a fazer isso. Felizmente, entretanto, quando você está em apuros, aprende bem rápido.

Astronomy: Isso é sempre algo bom. Fiquei curioso sobre como as comunicações entre você e o Centro de Controle da Missão funcionaram. Você obviamente estava trabalhando durante uma crise, enquanto eles planejavam antecipadamente como levá-lo para casa em segurança. Como era essa dinâmica, conversando com eles e resolvendo essas coisas?

Lovell: Foi muito bom. No começo, entretanto … eles sabiam que tínhamos que voltar no retorno livre. Fizemos um procedimento no computador para diminuir a velocidade e voltar depois, mas não achamos que o sistema de combustível do módulo lunar fosse capaz de lidar com tudo isso. Então eles estavam debatendo sobre o que fazer … enquanto estávamos indo em direção à Lua. Mas nós conversávamos de um lado para o outro. Sem a atuação do controle da missão, acho que não estaríamos conversando hoje.

Astronomy: É verdade que Jack e Fred ficaram cativados em tirar fotos de áreas da Lua?

Lovell: [risos] Bem, depois que voltamos à trajetória de retorno livre, a equipe em solo voltou à tona e disse: “Veja bem, analisamos sua situação e a quantidade de energia elétrica que você tem no módulo lunar, é incerto se essa quantidade será suficiente. Acreditamos que vá acabar antes de você voltar, mas precisará também de energia elétrica para conseguir sua última posição para pousar. Então vamos te dar uma acelerada.”

Isso foi no caminho para a Lua. Então, tínhamos uma equipe dos simuladores agora trabalhando nas direções. Então, quando ficamos mais perto da Lua, eles disseram: “A propósito, quando você estiver atrás da Lua agora, perderá a comunicação conosco, portanto, esteja pronto para copiar [nossas instruções].” E eu disse: “Bem, tenho meus dois companheiros, se eu perder alguma coisa, tenho certeza de que eles terão copiado”.

Então, quando chegamos muito perto da Lua, eles telefonam e dizem: “Você está pronto para copiar?” E eu disse “Estou” e comecei a copiar. Então olhei para meus companheiros. Eles não estavam prestando qualquer atenção. Estavam com câmeras em suas mãos. Você pode imaginar, com câmeras nas mãos?

Eu disse: “Senhores, quais são seus planos aqui?” Eles disseram: “Enquanto rodeamos a Lua para o lado mais distante, tiraremos algumas fotos”. E eu disse: “Se não chegarmos em casa, vocês não terão qualquer foto para revelar”. [Risos] Mas eu consegui seguir os procedimentos, eles tiraram as fotografias deles, e então voltamos para casa.

Astronomy: Quão doente Fred ficou na viagem de volta para casa? Essa foi uma grande preocupação para você?

Lovell: Sim. Ele teve uma infecção, uma infecção na bexiga. Ele teve calafrios e coisas assim. Eu tentei mantê-lo aquecido. De vez em quando eu dava um abraço de urso nele e tentava aquecê-lo com meu corpo, e ele aguentou lá, felizmente.

A temperatura continuava caindo lentamente. No começo, não notamos. Estávamos desligando todos os equipamentos eletrônicos que forneciam calor, para equilibrar a temperatura dentro da espaçonave. Finalmente, com tudo aquilo desligado, ficou meio frio lá dentro. Mas ele aguentou.

Astronomy: Quais foram seus pensamentos ao mergulhar no Pacífico? E você sabia que havia chegado em casa com segurança?

Lovell: Claro, foi um deleite. Estávamos voltando e havíamos superado esse outro grande problema que tivemos, que estávamos sendo envenenados por nossas próprias exalações. O sistema de ambiente no módulo lunar tinha apenas uma vasilha para remover o dióxido de carbono, e foi projetado apenas para dois homens por dois dias, e nós éramos três para quatro dias.

Então tivemos que descobrir uma maneira de nos livrar do dióxido de carbono, o que o Controle da Missão fez. Eles descobriram uma maneira de pegar uma vasilha de um módulo de comando inoperante, que era quadrada, e tentar encaixá-la em um buraco redondo, o que conseguimos fazer com fita adesiva e tudo mais dessa natureza. E funcionou. Isso foi milagroso, porque se não acontecesse, o dióxido de carbono iria se acumular e eu não saberia o que poderia ter acontecido.

Astronomy: Como foi a experiência de trabalhar no filme da Apollo 13 e aparecer nele, bem como sua parte na realização do filme?

Lovell: Foi meio interessante. De fato, logo depois de finalmente termos pousado e entrado no [navio de recuperação] Iwo Jima, espanamos o pó do corpo e Fred foi a enfermaria, nós descemos para vê-lo e ficamos lá conversando. Dissemos: “Sabe de uma coisa… Este é um voo incomum. Quero dizer, veja o que aconteceu. …. Nós deveríamos escrever um livro sobre isso.”

Então decidimos, bem, talvez seja uma boa ideia. Conversei com Jack Swigert naquela época e com Fred Haise, mas nada aconteceu por um tempo. Dias se passaram, ou anos se passaram, na verdade.

Então, um colega chamado Jeff Kluger telefonou, e ele foi um escritor para a revista Discover. Ele disse: “Eu sempre quis escrever uma história sobre a NASA e o programa espacial, e achei que a 13 era o caminho”. Eu disse: “É nisso que estamos pensando”.

Mas naquela época, Fred tinha um emprego com Grumman e, portanto, ele não estava interessado, e Jack havia morrido. … E eu disse: “Bem, vamos lá. Nós vamos dividir. Vamos meio a meio. Eu serei o cara que dará algumas informações. ” Eu gostei da escrita dele, e foi isso que fizemos.

Foi o que começou a ser Lost Moon. … É engraçado como [o filme] começou. … Ainda não havíamos terminado o livro, quando nosso [agente] disse: “Olha, há um interesse disso para os filmes”. Então, recebi uma ligação de Ron Howard: “Você poderia vir falar comigo sobre essa história em particular?”

Aconteceu que o filho de um controlador de voo também trabalhava para Ron Howard, e seu trabalho era ler todos os livros, roteiros e tudo mais o que as pessoas lhe entregavam, para ver se alguma coisa valia a pena fazer um filme. Ele viu este manuscrito, que não estava completo, e foi até Ron Howard com ele e disse: “Veja isso. Eu acho que isso seria meio interessante. Então [Jeff] e eu fomos conversar com ele, e foi assim que tudo começou.

Astronomy: Do filme Apollo 13 e de seu retorno seguro para casa, acho que na mente da maioria das pessoas, o Apollo 13 está lá em cima com, ou talvez um pouco mais abaixo que, o Apollo 11, em termos do que as pessoas lembram sobre o Programa Apollo. Como é fazer parte de algo que não funcionou, mas, no final, acabou se tornando ainda mais famoso?

Lovell: Bem, ficou mais famoso no começo, pelo menos aos olhos da NASA. Eu tenho que lhe contar uma história interessante. Nós voltamos. Foi um fracasso… Então a espaçonave, o módulo de comando, a única coisa que restou da Apollo 13, de fato, ficou em um armazém na Flórida por cerca de seis meses. Então, eles tentaram esquecer isso tudo. Eles queriam seguir para a Apollo 14 e tudo mais.

Então a França ligou, Paris ligou, [o] museu de Le Bourget, que era onde Lindbergh desembarcou. Eles perguntaram ao Smithsonian: “Vocês teriam algum artefato espacial que poderíamos ter neste museu?” Em seguida, as luzes vieram para o Smithsonian e também para a NASA: “Bem, podemos nos livrar dessa espaçonave”. Então eles exilaram a Apollo 13 para Le Bourget, e ela ficou lá por 20 anos.

Cerca de 18 anos… depois disso, eu tive um colega de classe que foi lá e viu ela e me escreveu uma carta. Ele disse: “Você sabe onde está sua nave espacial?” Eu não sabia ainda. Ninguém me disse que estava no Le Bourget.

Então, mais tarde, mais ou menos um ano depois, minha esposa [Marilyn] e eu estávamos em Paris e fomos a este museu, no aeródromo de lá, e lá a vimos. Nós caminhamos até ela. Ainda estava na armação que eles o haviam colocado. Estava por si, praticamente nada mais a seu redor. A escotilha estava faltando. O painel de instrumentos estava ausente. Os assentos estavam faltando. A única coisa que vi foi … um pedaço de papel preso no lado que dizia “Apollo 13” com os nomes dos três tripulantes. … E então Ron Howard fez o filme. Claro que o filme foi exibido na França, e todos aqueles franceses que viram disseram: “Oh, ela está lá em Le Bourget. Vamos ver.”

Enquanto isso, a NASA e o Smithsonian estavam envergonhados que um museu de Hutchinson, no Kansas, chamado Cosmosphere, se ofereceu para ir buscá-la, trazê-la de volta e a pagar por isso – e eles o fizeram. E todos aqueles franceses agora estavam irritados porque o guardaram lá por 20 anos, e agora ele voltou para cá. (Risos)

Astronomy: Você se lembra da primeira coisa que você e Marilyn falaram quando voltaram da Apollo 13? Como foi essa conversa? [Ela] encorajou você a encontrar uma carreira diferente, talvez?

Lovell: Bem, tenho que contar outra história interessante nesse sentido. Cerca de uma ou duas semanas depois que fomos resgatados no Havaí e voltamos, tivemos uma grande conferência de imprensa, é claro. Todo o pessoal da NASA entrou e todos os repórteres entraram, o pessoal da TV e coisas assim, e muitas famílias entraram para ouvir a coisa toda. Estávamos num auditório no Johnson Space Center. Então começamos a conversar sobre isso.

No início da conferência, um repórter perguntou: “Jim, você vai pedir outro voo? Obviamente, esse não foi bem-sucedido.” Antes, na Apollo 11 [e] 12, a administração havia dito: “Olha, se houver algum problema com este voo, nós o resgataremos e lhe daremos o próximo voo.”

Então, quando essa pergunta surgiu do repórter, pensei comigo sobre isso, porque a administração estava bem atrás de nós, esta era a oportunidade perfeita para colocá-los na parede e dizer que sim, porque não haviam conversado conosco, a Apollo 13, apenas com a 11 e 12 sobre isso. Eu estava prestes a dizer algo neste sentido quando, na plateia, vi uma mão subir. Então, eu vi essa mão descer assim [Jim faz um gesto com o polegar para baixo.]. Era minha esposa [Risos.]. Eu disse “Não. Acho que este é o último voo que vou fazer.” (Risos)

Para o alívio de quase todos na Terra, o módulo de comando da Apollo 13 caiu em segurança no Oceano Pacífico no dia 17 de abril. – Astronomy

 

Texto traduzido por Letícia Vasconcelos, sócia da Sociedade de Estudos Astronômicos de Sergipe.

 

Referências

Matéria completa no idioma original: https://astronomy.com/magazine/news/2020/04/jim-lovell-on-apollo-13

Imagem de fundo em destaque: https://www.nasa.gov/feature/nasas-apollo-13-mission-challenged-crew-launch-team

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.